SOBRE O BBB

Torço para que o Big Brother Brasil e seus respectivos participantes afundem cada vez mais, que o programa se converta em poema de Lautreéamont, em novela de Marquês de Sade, verdadeiros inventários da crueldade humana.

Que cheguemos ao ponto em que não reste nenhum herói, que nenhum homem ou mulher seja capaz de dizer uma única palavra de conforto. O público deve desligar a televisão desamparado, sem encontrar candidato à pobre alma.

Que tudo se converta em mesquinharia, que não se permita a mínima dignidade; não haverá mais torcida, nem mesmo acusações a serem feitas, pois ali, tudo enfim será transparente: o mal sempre se responderá com o mal; a traição será a única moeda de troca.

Que o reality show seja uma versão deteriorada da realidade. Que a casa seja como o universo gnóstico, criação defeituosa de um deus defeituoso. Que nele, tudo que um dia foi bom, inocente, se revele pútrido e infeliz. Que não permitam restar esperança de qualquer redenção.

Purifiquem a humanidade de toda e qualquer virtude. Estimulem os incestos, assassinatos, crimes de ódio. Coloquem o público perante atrocidades em estado tão límpido, imaculado, que qualquer sonho de bondade seja pensado delírio.

Lembro que certa vez Nelson Rodrigues justificou a atrocidade promovida por sua obra alegando se tratar de simples reflexo da figura humana. Postos os monstros em espelhos, quem sabe comecemos a reconhecer nós mesmos.